19 de mai. de 2009

Eleiçoes


Na África, há três padrões:

a) o ditador que simplesmente não tolera oposição e quando muito encena eleições que são uma farsa. Exemplos: Líbia, Chade e Egito.

b) o presidente que organiza eleições, admite oposição e até um semblante de liberdade para a campanha, mas na última hora patrocina fraudes que transformam todo o processo num simulacro de democracia. Exemplos: Quênia, Nigéria e Zimbábue.

c) o partido que tolera eleições porque sabe que vencerá de maneira esmagadora, tamanho é seu controle sobre as instituições de Estado. Exemplos: África do Sul, Moçambique e Angola.

escreveu a France Press para a TV Globo do Brasil:

Moçambique programou para 28 de Outubro as eleições nacionais, que os analistas acreditam que marcará o fim dos antigos rebeldes da Renamo como um grupo de oposição nessa jovem democracia.

“A Renamo perdeu no passado a maioria das eleições e, agora, se arrisca a perder sua condição de segundo lugar para o novato Movimento Democrático de Moçambique (MDM), segundo os analistas.

Com o partido Frelimo (no poder) disputando a vitória, os analistas acreditam que pelo menos um partido de oposição deveria obter um apoio significativo para evitar a volta do sistema de domínio de uma única formação que resultou numa guerra civil de 16 anos de duração.

"Se o MDM não conseguir ter uma expressão significativa no parlamento, e se a Renamo tiver em 2009 um resultado semelhante àquele que teve agora nas eleições autárquicas - menos de 20 por cento -, isso significa que a Frelimo teria 70, 75 por cento das cadeiras assentos no parlamento, e eu acho que existe um perigo de voltar a um sistema monopartidária".

A Renamo se orgulha de ter lutado para estabelecer uma democracia multipartidária em Moçambique durante a guerra civil contra a Frelimo - então um partido marxista-leninista - seguida da independência de Portugal em 1975.

Mas a Renamo também sempre lutou para superar sua imagem de guerrilha armada que travou uma guerra de desestabilização com a ajuda da antiga Rodésia branca, actual Zimbabwe, e a África do Sul do apartheid.

Depois do acordo de paz de 1992, a Renamo jamais conseguiu reverter sua bem-sucedida rebelião em êxito nas urnas.

O líder do partido, Afonso Dhlakama, conduziu sem êxito três campanhas presidenciais e a Renamo nunca conseguiu maioria no parlamento.

Nas eleições gerais de 2004, a coaligação da Renamo obteve apenas 30% dos votos. Dhlakama perdeu para o actual presidente Armando Guebuza por uma margem de dois para um votos.

José Jaime Macuane, analista político da Universidade Eduardo Mondlane, argumenta que a Renamo nunca conseguiu verdadeiramente se transformar de grupo rebelde armado num partido político.

"O problema da Renamo é estrutural. A Renamo é um partido que se estruturou em torno de indivíduos, em torno da oposição a um regime, mas só que este regime já não existe como tal. E a Renamo não conseguiu se converter ao novo contexto de competição eleitoral democrática, que exige um outro tipo de abordagem, exige um outro tipo de organização interna."

"A Renamo é fraca, não traduz votos em postos políticos; por consequência afasta o eleitorado, ao afastar o eleitorado torna-se mais fraca ainda, torna-se cada vez menos relevante. O que nós encontramos nos eleitores da Renamo é esta pergunta: 'Para quê votar na Renamo se o meu voto não se traduz em poder político?'", questiona Miguel de Brito.

Neste ano, a corrida presidencial vai ser uma nova disputa entre Guebuza e Dhlakama, que já conseguiram a indicação de seus respectivos partidos.

A disputa também deve incluir Daviz Simango, fundador do novo MDM.

Simango, prefeito (Edil) da segunda maior cidade do país, Beira, chamou a atenção do país no ano passado depois que superou a Renamo (e a Frelimo) e venceu uma eleição local.

A vitória fez de Simango o único prefeito não pertencente à Frelimo em Moçambique e deu a ele o momento certo para formar o MDM, levando vários membros proeminentes da Renamo com ele.

A economia cresceu desde o fim da guerra civil, numa média de 8% por ano de 1996 a 2007, de acordo com o Banco Mundial.

Mas esse crescimento não beneficia a maioria dos habitantes: o país é um dos últimos no Índice de Desenvolvimento Humano das Nações Unidas, que avalia a qualidade de vida da população.

"Este padrão de crescimento que favorece essas elites tradicionais é o que faz com que essas mesmas elites tenham portanto a possibilidade de drenar esses recursos para fortalecer o seu partido de eleição, que por acaso é a Frelimo. Estes padrões de acumulação geram desencanto no grosso dos eleitores, que não vai votar", afirma Macuane.

"Para qualquer partido o grande segredo, que nenhum ainda conseguiu encontrar, nem a própria Frelimo, é como convencer os outros 50 por cento que não votam a voltar às urnas. O partido que conseguir fazer isso vai ganhar muito", afirma Brito, acrescentando que os novos eleitores são a chave para uma verdadeira democracia competitiva em Moçambique. 

Nenhum comentário:

Postar um comentário